terça-feira, 27 de novembro de 2012

Vinte e três


Ela já devia ter 23 anos quando queria desde uns 13 ou menos. Seguramente, só posso afirmar do que presenciei a partir dos 17 e, por esse meio tempo, atesto que essa idade cronológica não passa de mera formalidade. Já a vi com o brilho no olho, o riso frouxo (e a vozinha, claro :P) de  uma menininha de 4 anos, com o sangue no olho de uma adolescente contrariada, com a determinação de crescer na vida de alguém com seus vinte e tantos, com a segurança de si de uma mulher de 40, com a serenidade de uma senhora já bem mais vivida, essas transições muitas vezes abruptas, tantas outras engraçadas.

A verdade é que ela pode ser quem ela quiser, justamente porque tem a certeza de quem é, porque a personalidade é de tom tão forte quanto o negro dos cabelos, mas se permite dançar com o vento como eles. E também porque seja com 4, seja com 40 anos, o olhar nunca perde a força, a fibra, a decisão: a grandiosidade de alma refletida ali é tão marcante quanto a expressividade do rosto e dos gestos.

Os parabéns, aqui, são pela pessoa, pela amizade, pela companhia, pela inspiração, pela admiração; não pelas tais formalidades. Mas, de qualquer forma:
Feliz Aniversário!

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Violão

Num fim de semana qualquer, quando os amigos se vão e a melancolia ameaça tomar conta, quando a embriaguez do vinho parece a melhor alternativa, meu olhar errante recai em ti. Pego-te no colo, indecisa, desligo a TV e deslizo os dedos pelas tuas curvas; ah, quanto tempo! Teu corpo no meu corpo, somos um só, e o vibrar que de nós emana sublima a tristeza, de barro que pesa o fundo do estômago a uma nuvem que vai indo, vai indo... E, tão despretensiosamente, o fruto desse encontro é sempre algo bom de sentir.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O melhor show da vida


Não me considero alguém que tenha ido a muitos shows até o momento. Depois que vim morar na PB, de fato, esse número aumentou consideravelmente, mas ainda é pequenininho se eu comparar ao que almejo num futuro que talvez só venha a existir mesmo nos meus sonhos. E esse semestre pareceu brincadeira: Tulipa Ruiz, Maglore, Marcelo Jeneci (que ainda não foi, mas a expectativa permanece), e, nesse domingo, Leo Cavalcanti.

Há quem me chame de doida por eu não medir esforços e certamente comprometer meu orçamento mensal pra atravessar o estado quando uma oportunidade dessas me surge. Prefiro assumir-me impulsiva, já, de certo modo, pedindo desculpas e justificando que, até o momento, sempre valeu a pena.

Hoje, mais do que nunca.

Há uns dois anos eu, graças à nossa internet amada (Salve! Salve!), dou de cara com a música de um cara muito a minha cara. A melodia caleidoscópica montada por um mar das mais variadas influências e aquelas letras de uma poesia clara que parece ler a mente montavam um disco que mais parecia um prato da minha comida favorita, pedindo pra ser devorado. Óbvio, foi exatamente o que eu fiz e, nesse meio tempo, algumas músicas nunca deixaram de fazer parte das minhas playlists, como 'Vou Ser Você' (a mais sinestésica pra mim, que, infelizmente, não fez parte do set desse show).

E então Namíbia vem me avisar que o tal cara vai tocar ali em Sousa!!!!!! O que são míseros 300km quando comparados a dois anos amargando turnês a mais de 2000km de distância? Sério, me responde: tinha como eu não estar lá?

Cheguei no sertão junto com o sol, trazendo a ansiedade e o encarte do CD dentro da mochila. A primeira eu deixei guardada; o segundo, tirei enquanto descobria as coordenadas da casa da amiga pra repassar as canções na cabeça.

Depois de um dia tranquilo, bem acompanhado e bem aproveitado, entrei no Centro Cultural com um friozinho na barriga. O primeiro show, da paraense Camila Honda, foi de uma doçura cativante. Quando abriram novamente as portas, tive o cuidado de me posicionar no meio da primeira fila, bem em frente ao palco; não dava pra perder nenhum detalhe!


No momento em que os músicos entraram, o show já começou a superar as minhas expectativas. Mariá Portugal, Filipe Franco e Marcos Leite visualmente formavam uma mistura heterogênea, figuras que causariam um certo estranhamento se arriscassem uma caminhada pela cidadezinha pacata. Ali, no palco, tudo me parecia muito familiar, inclusive a ansiedade já explodindo no peito. Mariá alojou-se na bateria (um PQP mental nesse momento :P), Filipe passou a correia da guitarra pelo pescoço, Marcos fez o mesmo com o baixo. As minhas bochechas já salientes estavam maiores ainda, fixadas num sorriso deslumbrado quando ele entrou no palco.

Teatralidade, musicalidade, amabilidade, espontaneidade, verdade... Posso passar nem sei mais quanto tempo  escrevendo substantivos que concretizem o que aconteceu naquele palco. A guitarra de Filipe, tão marcante quanto o se bigode (:P), a energia surpreendente da bateria de Mariá, o psicodelismo dos cabelos e do sintetizador de Marcos formavam uma combinação perfeita com o tudo de Leo Cavalcanti. Imagino o que deva sentir um artista independente ao chegar em uma cidadela sertaneja, até então desconhecida, e ouvir o público cantando junto. Esse regozijo contaminou a platéia inteira, a vibração intensa ao final de cada canção atestava isso claramente.

Mais cedo, eu havia brincado com Nabila e Namíbia, dizendo que iria até o CCBNB na passagem de som pedir pra cantar a parte da Tulipa Ruiz na música. Descobri, no meio do show, que a telepatia que parecia existir quando eu lia as canções de fato era real.

"Mas no fundo uma esperança dorme, pronta a qualquer alarme, se você mudar de idéia". Ali, de joelhos, na minha frente, olho no olho, ele virou o microfone pra mim. "Pois nenhum amor assim morre, talvez você se desarme, estarei pronto para a reestréia".

Inacreditável. Inimaginável.

Levantamos e dançamos a dança da surpresa, da alegria e de todos os sentimentos bons que só a música traz numa enxurrada. De relance, vi Mariá passando o dedo no canto do olho. Foi emoção, ela me disse depois, e isso me deixou mais emocionada ainda.

Agora, de volta a Campina Grande, de saída pro hospital, de volta à rotina, posso dizer:

Isso não foi um show, foi um sonho.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Conversa entre amigos



Abro a boca. Depois de um certo tempo com um peso sentado no peito e um emaranhado na cabeça, escolho os melhores ouvidos para brandir a língua num discurso libertador. Toda palavra desferida ancora-se na ponta de uma linha e, na construção de cada frase reflexiva, a organização consciente dos vocábulos as puxa e descortina conclusões inconscientes à frente, desatando o nó. O peso vai se desfazendo, acrescentando tijolos novos à estrutura do autoconhecimento.

Não bastasse, as ondas sonoras que nos vibrar os tímpanos mutuamente encorpam uma rede de finos fortes fios invisíveis, os quais voluntária, mesmo que despercebidamente, garantem amparo. Compartilhando fragilidades rega-se a árvore que Garrido cantou.

Quando a catarse a duas mentes chega ao fim, traz consigo a leveza da alma e uma confortável sensação de segurança, de uma cumplicidade moldada nas diferenças pela compreensão recíproca. Que essa certeza, silenciosamente celebrada todos os dias, se faça presente por séculos e séculos. Amém.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Adultecer



Viver nunca foi simples e, do jeito que as coisas nos são (im)postas hoje (a vida adulta, com todas as responsabilidades e decisões, aquele fardo de ônus com uma meia dúzia de bônus um tanto duvidáveis; os padrões de comportamento, que passam a ferro a personalidade de muita gente, e por aí vai...), fui passando pelo mundo meio frustrada, meio conformada, sem experimentá-lo como ele merece, como eu mereço.

Num estalo, me dei conta. Se a adolescência é aquela fase de viver intensamente, experimentar, correr o mundo que existe dentro e fora de mim, ah, então sinto muito: a minha está longe de acabar. Os gostos que não passaram pela língua, as cores que os olhos ainda não viram, as texturas que os dedos não tocaram simplesmente não me deixam em paz. Então, tão simplesmente quanto (mas não sem uma pitada de receio, culpa da senhora de meia-idade parcamente cultivada nos últimos anos), resolvi: a segurança fica pra outra hora, agora eu quero é me construir, me fazer uma colagem de cada uma das 30 meninas/mulheres que percebi que posso ser. No final, ou talvez já no futuro, a música da Ana será minha por personificação :

Um beijo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Desobedeço




"Não, não, NÃO! Não posso!!", tenta fazer-me ouvir o resquício de consciência acuado num cantinho da mente pelo brainstorm de melodias, cores, sentimentos e a vontade de largar a matemática cotidiana que me aprisiona num caminho cuidadosa e laboriosamente ladrilhado, supostamente mais seguro e certamente mais chato. Esse não-querer silenciado pela rotina explode, alastra-se sem dó sempre quando mais quieto devesse estar; pressão em cima da prisão dá nisso. Depois de cuspir tudo num papel virtual, tento sair catando os passarinhos, tão felizes com seus segundos de liberdades, e guardá-los novamente na gaiola. Piam triste, mas a madrugada é curta e a trombeta militar soará impiedosa logo que amanhecer.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Viagem



Para noroeste, o céu se rasga em rosa. O riscado quilométrico de asfalto na borracha não deixou para trás a ansiedade. Serra e sertão degradearam-se em dunas brancas, cajueiros e carnaubais. Quando a selva de pedra despontar, lar, doce lar.