segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Capítulo do erguer de novo

Ah, esse mundo teimoso
Que não se contenta e insiste em girar
De um piscar se aproxima, de outro te deixa quando mais devia ficar

Ah, essa dor persistente
Que nunca desiste de me atormentar
Feito erva daninha invade
Sem pedir licença pra enraizar

Se não fosse essa força que tenho
Pra mais de mil vezes me recuperar
E o vigor nordestino de rijo pescoço
E rosto sempre para o ar

Não teria nem meia coragem
Pra, num golpe limpo e seco, puxar
Cada corda presa

Sei que tal ato, tão brusco e sem anestesia
Vai me maltratar
Mas que sangre minha superfície
Deixando meu cerne mais firme estar

Saro feridas com meus curativos
Que levam caneta e papel
Te confesso numa melodia
Que o gosto na boca ainda é fel

Bom pra fazer cicatriz
É saber que o sol nasce a cada manhã
Mesmo que meu sofrimento
Ainda venha em picos de febre terçã

Dito tempo, outrora maldito
Agora bem-vindo, na mão vem pegar
E isso tudo esparsar

Ah, esse mundo teimoso
Que não se contenta e insiste em girar
Me despeço pra tomar meu rumo correndo
Eu tenho que acompanhar

domingo, 23 de janeiro de 2011

Agora Quem Sangra Sou Eu



Aquela espada, dupla lâmina, poderia ter partido-me as pernas, vazado meus olhos, cortado-me a língua. Mas não.

Teleguiada, transfixou-me o peito, dilacerou o que havia pelo caminho.
Permanece lá, girando lentamente, torcendo o vazio que agora é meu resumo.

Sangro no papel, já que meu corpo não comporta mais. E o fluxo não cessa, corre em pulsos controlados pela memória do mais belo sonho que, à porta de virar realidade, tive a destreza de suicidar.

Paradoxo Por Você

O frisson da insegurança me apaixona
E o seguro do abraço me faz crer
Que, enquanto eu puder viver
Não será fácil resolver o mistério desse laço
Desse tortuoso traço
Que me prende, mas liberta
Que me mata, mas desperta
Que me mete medo e sede
De ti, nos meus lençóis
Teus beijos como anzóis
Estimulam meus instintos
Se eu clamar clareza, minto
Corro para abocanhar
Cilada dos mil mares
Me trazes novos ares
Não consigo mais voltar

(18-01-2011)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Condão Inoportuno



Dói.
E como...

Fazendo uso de meu condão, como que treinado para fazer dos melhores prólogos um epílogo de uma folha só, estendo-te uma rosa, minha melhor rosa, jamais vista por ninguém. Preocupada em alertar-te sobre um pequeno espinho, imperceptível aos teus olhos, furo-te a carne, extraio-te sangue. Meu sangue. Uma gota tua me faz anêmica, e isto só porque diminuiu o brilho dos teus olhos. Enquanto dormes, devaneio. Me invade o medo de que o trabalho de tua medula restitua-te o teu sangue, mas não o meu. E se meu espinho levou aquela gota de brilho? Traço, então, um plano de vida ou morte: jogar-me pelo labirinto da tua alma, sem olhar para trás nem deixar pista para retornar. Hei de achá-la e, uma vez encontrada, não me importa mais voltar.