Não me considero alguém que tenha ido a muitos shows até o momento. Depois que vim morar na PB, de fato, esse número aumentou consideravelmente, mas ainda é pequenininho se eu comparar ao que almejo num futuro que talvez só venha a existir mesmo nos meus sonhos. E esse semestre pareceu brincadeira: Tulipa Ruiz, Maglore, Marcelo Jeneci (que ainda não foi, mas a expectativa permanece), e, nesse domingo, Leo Cavalcanti.
Há quem me chame de doida por eu não medir esforços e certamente comprometer meu orçamento mensal pra atravessar o estado quando uma oportunidade dessas me surge. Prefiro assumir-me impulsiva, já, de certo modo, pedindo desculpas e justificando que, até o momento, sempre valeu a pena.
Hoje, mais do que nunca.
Há uns dois anos eu, graças à nossa internet amada (Salve! Salve!), dou de cara com a música de um cara muito a minha cara. A melodia caleidoscópica montada por um mar das mais variadas influências e aquelas letras de uma poesia clara que parece ler a mente montavam um disco que mais parecia um prato da minha comida favorita, pedindo pra ser devorado. Óbvio, foi exatamente o que eu fiz e, nesse meio tempo, algumas músicas nunca deixaram de fazer parte das minhas playlists, como 'Vou Ser Você' (a mais sinestésica pra mim, que, infelizmente, não fez parte do set desse show).

E então Namíbia vem me avisar que o tal cara vai tocar ali em Sousa!!!!!! O que são míseros 300km quando comparados a dois anos amargando turnês a mais de 2000km de distância? Sério, me responde: tinha como eu não estar lá?
Cheguei no sertão junto com o sol, trazendo a ansiedade e o encarte do CD dentro da mochila. A primeira eu deixei guardada; o segundo, tirei enquanto descobria as coordenadas da casa da amiga pra repassar as canções na cabeça.

Depois de um dia tranquilo, bem acompanhado e bem aproveitado, entrei no Centro Cultural com um friozinho na barriga. O primeiro show, da paraense Camila Honda, foi de uma doçura cativante. Quando abriram novamente as portas, tive o cuidado de me posicionar no
meio da primeira fila, bem em frente ao palco; não dava pra perder nenhum
detalhe!
No momento em que os músicos entraram, o show já começou a superar as
minhas expectativas. Mariá Portugal, Filipe Franco e Marcos Leite visualmente
formavam uma mistura heterogênea, figuras que causariam um certo estranhamento
se arriscassem uma caminhada pela cidadezinha pacata. Ali, no palco, tudo me
parecia muito familiar, inclusive a ansiedade já explodindo no peito. Mariá
alojou-se na bateria (um PQP mental nesse momento :P), Filipe passou a correia
da guitarra pelo pescoço, Marcos fez o mesmo com o baixo. As minhas bochechas
já salientes estavam maiores ainda, fixadas num sorriso deslumbrado quando ele
entrou no palco.
Teatralidade, musicalidade, amabilidade, espontaneidade, verdade...
Posso passar nem sei mais quanto tempo
escrevendo substantivos que concretizem o que aconteceu naquele palco. A
guitarra de Filipe, tão marcante quanto o se bigode (:P), a energia surpreendente
da bateria de Mariá, o psicodelismo dos cabelos e do sintetizador de Marcos
formavam uma combinação perfeita com o tudo de Leo Cavalcanti. Imagino o que
deva sentir um artista independente ao chegar em uma cidadela sertaneja, até
então desconhecida, e ouvir o público cantando junto. Esse regozijo contaminou
a platéia inteira, a vibração intensa ao final de cada canção atestava isso
claramente.
Mais cedo, eu havia brincado com Nabila e Namíbia, dizendo que iria até
o CCBNB na passagem de som pedir pra cantar a parte da Tulipa Ruiz na música.
Descobri, no meio do show, que a telepatia que parecia existir quando eu lia as
canções de fato era real.
"Mas no fundo uma esperança dorme, pronta a qualquer alarme, se
você mudar de idéia". Ali, de joelhos, na minha frente, olho no olho, ele
virou o microfone pra mim. "Pois nenhum amor assim morre, talvez você se
desarme, estarei pronto para a reestréia".
Inacreditável. Inimaginável.
Levantamos e dançamos a dança da surpresa, da alegria e de todos os
sentimentos bons que só a música traz numa enxurrada. De relance, vi Mariá
passando o dedo no canto do olho. Foi emoção, ela me disse depois, e isso me
deixou mais emocionada ainda.
Agora, de volta a Campina Grande, de saída pro hospital, de volta à
rotina, posso dizer:
Isso não foi um show, foi um sonho.